Avanço genético em bloco

Artigo assinado pelo pecuarista e presidente da  Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC),  Ignacio Tellechea.

O Brasil inicia uma nova e consistente fase de avanço genético dos rebanhos taurinos. Apesar dos diversos riscos assumidos pelo Rio Grande do Sul quando deliberou pela retirada da vacinação contra febre aftosa, a unificação dos status sanitários da Região Sul deve impulsionar o melhoramento genético da pecuária de corte. Isso porque Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina concentram a maior parte dos rebanhos puros focados em genética para produção de carne premium, uma porta para o upgrade que a pecuária nacional tanto precisa. Desta forma, abrem-se novas possibilidades como livre negociação de reprodutores, maior adesão a testes de eficiência e provas de campo, sem falar no choque de sangue entre linhagens desenvolvidas dentro do Brasil. Uma tendência que ganha corpo em tempo de dólar nas alturas e quando a genética de reprodutores nacionais conquista mercado a galope.

Isso não quer dizer que os avanços genéticos estavam parados. Afinal, a venda de sêmen vinha suprindo lacunas nesses mais de dez anos de diferenciação sanitária. O que me refiro é que, com as portas abertas, temos agora a possibilidade de comercialização cruzada de animais em pé, de um intercâmbio que auxilia a todos: ao mercado, aos selecionadores e seus parceiros e aos próprios usuários e consumidores. Um benefício que não vem sem a exigência de cuidados redobrados. Não é segredo que boa parte dos pecuaristas não defendeu a retirada da vacinação do rebanho gaúcho. O que não quer dizer que não têm a capacidade de enxergar os benefícios que advêm dessa decisão.

Contudo, para colher os frutos que se avizinham, é primordial que as autoridades sanitárias e os criadores tenham clareza sobre suas responsabilidades para com a pecuária nacional. O Rio Grande do Sul é um estado de fronteiras frágeis e que carrega cicatrizes dos casos de febre aftosa registrados há mais de 20 anos.  A garantia de lastro financeiro para indenização de reprodutores de elite em caso de rifle sanitário torna-se essencial, por mais que se saiba que o valor genético desses animais não é passível de reposição.

Neste momento, em que a vacinação já foi suspensa e aguarda-se apenas o sinal verde da OIE, o que cabe a nós é projetar o futuro e trabalhar com seriedade para que se avance com consistência. A Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares (ANC) e as associações de raça que atuam no melhoramento com o auxílio do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) farão a sua parte para que o risco valha a pena. Esperamos, todavia, o mesmo comprometimento de todos os demais agentes envolvidos na manutenção da sanidade do rebanho e no desenvolvimento do Brasil.